sábado, 11 de abril de 2009

BOLERO


48.
NÃO ME QUEIRAS
que careço
demais para isso
Te quero

bolero




49.
NAS FORMAS VERDES DAS
DOLÊNCIAS CALMAS
o pólem das árvores é a fina es-
sência e espíritos de emoções diversas
correm




50.
VOZES QUE OUVI DO PASSADO
falando-me ternamente
contai-me um pouco das coisas
de que estou afastado

Sem passado no perdido
apátrida sem sentido
sem que do breve e do bento
momentâneo acontecer do enredo
haja a terna paz que passa
sempre
ao lado




50.
A NOITE POUSA SOBRE OS OLHOS
do lago estático e circular
há uma fácil quebra de cuidado
no displicente repousar

As aves dormem como nuvens
nas calmas voltas do ar
e no silêncio soa a seda
e a medalha do luar

Nas nossas noites passadas
como vendas da infância
há sortilégios secretos
perfil de veladas asas

Lastimação do tido
lastimação
lastimação do tido




51.
NO CAMINHO ATRÁS
do caminho que pequei
ficava o mundo e seu pedaço
a praça, nosso começo
o mundo, o teu regresso
no caminho atrás
do caminho que pequei

Expectador fiel a mim mesmo




52.
SOMBRAS QUE PASSAIS DOS
LADOS
de cada memória apagada
dizei-me tudo que espera
a minha verdade negada




53.
EU TINHA UMA VITROLA DE
CORDA
e uns discos de bolero

Na minha casa havia um álbum
de litogravura
à noite minha mãe bordava
as toalhas do dia
meu pai lia
havia um canto suave
no céu apareciam estrelas




54.
NÃO GOSTO DE COISAS FUGIGIAS
que me escapam antes de as ter
Amo os remansosos laços
que assistem, calmos, nos passos
e voltam ao lar, feito pássaros
fáceis
no ar do espaço aberto entre montanhas
plácidas
E pensamentos lógicos
sem rápidas inquietações
pouso anguloso da estrada
onde nos abrigamos para uma única
noite de eterno




55.
OUÇO OS INSTANTES DE
FELICIDADE
como festas de passadas casas
e sou até feliz na distância

Meus sentimentos
na corespondência
tranquilidade atroz
resignadamente ausente
perdida sossegadamente




56.
A JOVEM LUA SE RENOVA E
APARECE
pousa no mar prateada garça
Treme às carícias arrepios
do gato do som
redondo e noturno bem de dentro
que sai de dentro do batente fundo
e que se alastra e se alarga
e encanta tudo




57.
É POSSÍVEL QU EU NUNCA TE
ENCONTRE
mas conto contigo em todos os
dias

Te sinto impalpável beleza
e talvez até fosse feliz

Só sei que parece que existes
para além de outro lugar afastado




58.
NÃO, NãO QUERO MAIS
não acredito
nada me ilude nem me espera
no pomar dos credos
nem as sempiternas
serenidades
Possível é que vivam sempre
inimigos habitantes das paredes
por que passo as noites inquietas
Não, não temo
cantar podemos nos lugares frios
mas o ensino das carências dizem
que sempre haverá o rígido segedo
Não, não tive pena
quando morreram os dias de serenidade
também aconteceram neles
o rouco travo de seus nunca-mais
Não, não temo
medo só para quem ama e vence
das luzes, dos carnavais
Não, não tive medo




59.
QUE É VIVER?
permanecer
ou passar?




60.
NÃR ACREDITAR EM TI
tudo destruído
no caminho percorrido
meus sentimentos
Não trates o mel
com o mal
nem andes lento
sobre meus sofrimentos
Não me peças a paz
que o amo negou
a reflexão do feito
esconso medo
morno sentido
a morte chegou
demanhazinha
como um carinho
de tuas mãos
Aquilo que sempre amei
nem posso dizer
que possa haver




61.
- SEUS DOCUMENTOS!
- Suas armas!
- Sua vida!




ALVA, A LUA IMAGINÀRIA SE
DESCOBRE
em névoas se levanta o espaço
aberto movimento
dormir e sonhar, alado amor

Não revela a pálida aparência
sutis e dormentes primaveras
nem sonhos das danças primordiais

A lua se pincela da janela
nas folhagens belas
e a pose branca pende
dos umbrais da noite
Orvalhadas pontes
brancas primaveras

Todo o passado
Tudo passado




63.
À ESPERA
a solidão boda seu lenço
Aquela que tanto amei
não haverá nunca
e me alegra todos os dias
Inútil passar das mágoas
da vã tristeza sempre resta
o mesmo lar incomeçado
Reencontro o primeiro passo
nas dobras do que não sou
Que lenta
venha a vontade de cantar



Sem comentários:

Fundo de página : Canan Oner